O parto em si é um evento físico, emocional e social. Se pararmos para pensar, faz muito pouco tempo que o parto se tornou um evento que ocorre, na maior parte das vezes, em um hospital e isso se deu pela entrada dos médicos na assistência ao parto, o uso de anestésicos e o aumento da complexidade das intervenções que foram sendo inventadas.

Com o tempo o parto ficou tão medicalizado, tão mecânico e tão impessoal que acabou surgindo um movimento para que ele voltasse a acontecer em casa, para resgatar o respeito, o acolhimento e a liberdade.

Porém muitas pessoas pensam errado sobre o parto domiciliar. Confundem o termo parto humanizado com o parto domiciliar, acham que a mulher que tem o bebê em casa sempre é sem assistência… Enfim, uma confusão que entendemos que aconteça, porque culturalmente, na cabeça das pessoas brasileiras o parto é um evento perigoso, ou até algo a se evitar, com uma cesariana.

O parto domiciliar é estatisticamente seguro, no Brasil ele ainda representa a menor parte entre as modalidades de nascimento. E existem variações! O parto domiciliar pode ser assistido ou desassistido, planejado ou não planejado, acompanhada de parteira tradicional ou parteira urbana.

Nessa hora a gente pensa: parto domiciliar não é tão simples quanto se imagina…Mas também não é tão complexo. Entre os mitos que cercam o parto domiciliar assistido e planejado estão a necessidade de uma UTI na porta da casa, por exemplo, ou a ideia de que parto domiciliar é só com parteira tradicional, com umas ervas nas mãos, sem técnica alguma. O que não tem nada de real, pois parteiras tradicionais dominam técnicas necessárias para acompanhar um parto.

Realizar um parto em casa deveria ser um direito de escolha e a OMS preconiza isso. No Brasil não há esse direito de escolha. Existem lugares afastados onde a única opção é o parto domiciliar com parteira tradicional e sem possibilidade de transferência nem por necessidade, e lugares onde existem parteiras tradicionais, urbanas, hospitais, maternidades, onde o direito de escolha está atrelado à possibilidade de pagar pelo serviço, pois ele não é oferecido no SUS.

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Mas como funciona um PD (parto domiciliar) com parteira urbana?

A parteira urbana é uma enfermeira obstetra ou obstetriz, ela acompanha todo o pré-natal com consultas para avaliar a viabilidade para o PD. A gestante pode ser acompanhada por um médico obstetra também, se ela desejar.

A gestação não pode ter NENHUM fator de risco como diabetes, hipertensão, gravidez de gêmeos, ou quando o bebê está sentado. O parto deve acontecer entre 37 e 42 semanas e não pode ser induzido. Por isso a importância do pré-natal: os fatores de risco podem mudar durante a gestação e o parto ter que ser realizado em um hospital. O casal deve assinar um termo de consentimento livre e esclarecido e deve estar muito bem informado sobre tudo o que eventualmente pode acontecer.

Qual é a equipe mínima para um parto domiciliar?

Dois profissionais de saúde habilitados (médico obstetra, enfermeira obstétrica ou obstetriz) capacitados para o atendimento ao parto e ao recém-nascido em ambiente domiciliar.

Esses profissionais devem ter treinamento atualizado a cada dois anos em reanimação materna e neonatal e emergências. O atendimento poderá ser iniciado por um dos profissionais e na hora do nascimento deverão estar presentes pelo menos dois profissionais.

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E se precisar de uma intervenção?

Durante o parto domiciliar não podem ser administrados medicações de ambiente hospitalar, como ocitocina para aumentar contrações, analgesia entre outros. Se for necessária uma intervenção, é feita uma transferência para o hospital.

E isso nos leva ao outro ponto importante: o domicílio não pode estar longe mais que 20 minutos de um hospital de referência (que esteja preparado para admitir a mãe e o bebê).

E se a mulher não quiser mais?

Se por qualquer motivo a mãe desejar sair de casa para ter o bebê no hospital, ela que manda! Aliás em um parto domiciliar é a mulher que manda sempre!

E se o bebê não nascer bem?

A equipe tem todo o equipamento e treinamento para atender e até reanimar o bebê se for preciso. Após os procedimentos, se ainda houver necessidade, o bebê é encaminhado para uma UTI, assim como é no atendimento hospitalar.

A motivação para um casal escolher um parto domiciliar nunca deve ser o medo e a insegurança! Pelo contrário! A OMS recomenda que a decisão pelo local de parto seja “onde a gestante se sente mais segura”, então o medo de um parto hospitalar por exemplo, não deve ser o guia para esta escolha tão importante.

E apesar da equipe levar vários equipamentos para dentro da casa da gestante, o parto domiciliar não é apenas um parto igual do hospital que acontece em casa. A forma de atendimento é totalmente diferente. É um resgate ao respeito, ao acolhimento e ao parto como um evento normal na vida das pessoas.