Se você tem desejo de trabalhar com gestantes e puérperas, ou mesmo com mulheres que desejam engravidar, e sempre fica a pulga na orelha se existe demanda, antes de qualquer coisa se liga nesses números: a cada hora nasce no Brasil 321 bebês, são 5,36 por minuto ou a cada 11,2 segundos e eu posso te garantir que desse número mais de 52% nasce de cesárea. Também te garanto que desse número mais da metade não precisaria de cesárea e desses partos apenas 15,6% tinham preferência pela cesárea, ou seja, a maioria dessas mães chegaram desejando um parto normal e é aí que te digo que tem demanda, sabe por quê?

Essas mulheres foram levadas por esses passos e muitas delas não tiveram acesso a informações, e não estou me referindo a pessoas de baixa renda, mas sim mulheres que confiam única e exclusivamente em seus obstetras que usam de falsas justificativas para levar essas mulheres para uma cesárea, como por exemplo: cordão enrolado no pescoço, mãe pequena, bebê grande, entre tantas outras. Esse cenário faz com que percamos nossa autonomia, nosso protagonismo.

Esses dias li um artigo intitulado “Reflexões sobre o excesso de cesarianas no Brasil e a autonomia de mulheres” onde é mencionado a importância do que temos feito na internet pela recuperação do direito de trazer nossos filhos ao mundo com respeito e de ser respeitada nesse momento. Neste artigo é abordado como nossos partos tornaram-se um evento quase exclusivo medicalizado e dominado pelo saber médico. Fugimos da dor humana, das nossas vivências, nos abdicam de parir e sentir, somos roubadas da nossa humanidade e é aí que entra a doula: um resgate do feminino, do círculo feminino, do protagonismo da mulher.

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Antigamente quando sofríamos, sentíamos tudo isso entre mulheres, no ambiente familiar e a doula vem fazer esse papel, de informar, apoiar, orientar. Sem vínculo com a equipe médica, ela está ali em prol a mulher. Essa relação de vocês começa lá na primeira consulta onde você vai entender a história dessa mulher, quais foram os caminhos que a trouxeram até aqui, e ao longo da gestação terão encontros onde você vai informá-la e muni-la de conhecimento para que ela empodere-se. É isso mesmo, nós não empoderamos ninguém, a vemos se empoderando.

No parto a doula será apoio para a família, usará métodos não farmacológicos da dor como massagens, uso de rebozo, sugerir posições, você vai lembrar essa mulher de comer, andar e até respirar, isso mesmo!! Vai mostrar para essa mulher que ela não é incapaz de parir, mas sim o sistema está nos incapacitando. Você será o resgate, o lembrete de que ela consegue!!

Como descreveria Nolan, você será aquela que oferece a mão como apoio, respirará com ela, irá promover o encorajamento e tranquilidade e não será mais um a decidir ou colocar suas expectativas sobre ela, porque se a mulher desistir ou não seguir no caminho do parto normal, isso deverá e será respeitado. Você em o papel de ser suporte físico e emocional.

É importante lembrar a doula não é parteira, a doula não faz parto, a doula não faz toque, a doula não trava guerra com a equipe médica (parto não é lugar de ativismo). Se você além de doula é também psicóloga, na hora que for atuar terá que se despir das outras funções e ser apenas doula.

A doula é uma ocupação ainda não regulamentada e os números ali em cima já mostram que no mercado não falta clientes, o que falta é divulgação. Gostaríamos de ter doulas espalhadas por todos os cantos. “Ah, mas na minha cidade não tem doula!” Seja você a primeira, seja precursora! Temos várias alunas que foram em suas cidades, inclusive a Marília minha sócia foi pioneira em Londrina e olha onde estamos hoje. Se profissionalize, porque de amadores o mercado está cheio, tenha respeito por seus clientes, forme-se, estude, se atualize.