Por Marilia Bittencourt
Hoje trago uma reflexão sobre algo que vem me inquietando há muitos dias. É fato que nos últimas ano conseguimos resgatar muito dos processos que envolvem trazer um ser humano ao mundo como o parto e a amamentação. E quando eu falo resgatar, estou falando de tirar da mão das instituições, dos profissionais e dar autonomia para quem irá passar por todo esse processo. Porém observo com muita tristeza que estamos falhando nesta tarefa. E eu explico o porquê.
Lutamos há anos para que o parto, a amamentação não fossem tutelados pelos profissionais, ou seja: somente um médico sabe sobre o corpo da pessoa que irá parir ou amamentar e só ele pode decidir o que irá acontecer (e no caso geralmente acontecia uma cesariana e um desmame precoce). Fizemos marchas, campanhas online, foi feito um documentário premiado, fizemos mamaços… e hoje em dia a Humanização (como acabou sendo chamado o resgate de todos aqueles processos) virou em si um produto Pasteurizado.
Hoje em dia o parto por exemplo virou um produto onde a pessoa contrato o profissional que se diz humanizado (geralmente bem famoso nas redes) e espera ter como resultado aquele parto bonito de Instagramável.
Só que me deixa contar uma coisa: ser humanizado não é ser gentil e afetuoso ou fofinho com as pacientes, ou que faz uma consulta de 40 minutos, que é tão atencioso que parece um terapeuta, nem mesmo o que “permite” que o parto seja feito na banheira, ou que faz print ou carimbo da placenta e muito menos ser o mais famoso com vídeos impactantes no Instagram.
O profissional realmente humanizado vai incentivar para que a própria gestante seja a dona do seu próprio parto, da sua própria história de amamentação e da sua própria relação com o seu bebê! Ele vai dar as melhores condições para que isso aconteça e principalmente não vai tornar ela refém das suas expectativas.
Temos que tomar cuidado para não tutelar as gestantes, porque essa é a forma com a qual estamos acostumadas a sermos tratadas há bastante tempo, então é mais “confortável” buscar pacotes de “Pasteurização” invés de “Humanização” de fato.
Sempre ouvimos que “para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer” e a meu ver se continuarmos tutelando as gestantes e mães não estamos mudando nenhum formato. Eu acredito que somente com muita informação e responsabilidade conseguiremos mudar alguma realidade.
Faz sentido pra você?
Marilia Carolina Ferreira Bittencourt
Mãe, Doula, Consultora em Aleitamento Materno e Enfermeira Obstetra