De acordo com o dicionário: Ansiedade “é o estado de perturbação psicológica causado pela percepção de um perigo ou pela iminência de um acontecimento desagradável ou que se receia; opressão; angústia; desejo veemente; incerteza aflitiva; impaciência; disposição para a inquietação.” [1]

A ansiedade é algo comum a todos nós, em níveis diferentes, em distintas circunstâncias do ciclo vital, é um processo inclusive hormonal, o que durante a gestação, convenhamos, é atuante como uma avalanche, não é mesmo?

Conforme estudos realizados, nas últimas semanas da gestação essa ansiedade atinge níveis ainda maiores do que nos outros períodos, o que tenho percebido na prática no contato com as gestantes.

É importante entender que, até certo ponto, a ansiedade é algo natural e até saudável, porém devemos observar e cuidar para que este sentimento não nos domine e gere sofrimento. Se isso acontecer é necessário buscar ajuda profissional de um psicólogo e em alguns casos de um psiquiatra. Vamos entender o porquê disso.

Comumente só se propagam as ideias positivas, sobre a gestação e o parto. O problema é que isso acaba colocando de escanteio outros sentimentos envolvidos durante este período. A gestação abrange muitas mudanças, no próprio corpo, na constituição familiar, na administração do trabalho, entre outros. Ansiedade, dúvidas, amor, alegria, medos, tristeza permeiam o psíquico desta gestante, afinal o ser humano é um ser complexo.

Nas últimas semanas de gestação, geralmente tudo já está pronto e organizado: enxoval, quartinho, malas da maternidade… só falta…o bebê nascer! E o tempo do bebê é algo que não temos como controlar, depende exclusivamente dele (exceto se for uma cesariana agendada, o que é tema para outra discussão). Isso acaba nos deixando sem controle da situação, algo que não somos acostumados e que nos deixa desconfortáveis.

Além disso, nesse período, a grande maioria das mulheres são minadas de histórias, perguntas, afirmações que só as deixam mais ansiosa e muitas vezes com medo. Mesmo que não seja o primeiro filho essa ansiedade existe, comparações com a outra gestação, outras gestantes, outras histórias, relatos, enfim. Expectativas de como será o parto, como será o bebê, se essa mulher e seu bebê serão respeitados dentro do seus desejos, como serão os primeiros momentos e dias, se não está esquecendo de nada, entre outros turbilhões de pensamentos.

Se a gestante desejar o parto normal então! A ansiedade da sociedade é ainda maior… A cobrança de amigos, familiares e conhecidos se torna algo frequente, com perguntas ou afirmações do estilo: “Ainda não nasceu?” “Cuidado para não passar do tempo, viu?” “Esse bebê vai ficar muito grande aí dentro.” “Não deve ter mais espaço aí, você está explodindo.” Enfim, afirmações e questões mais bizarras e preocupantes possíveis.

Mas a pergunta chave aqui é: como trabalhar essa ansiedade?

Para auxiliar nessa elaboração, a informação e o empoderamento são essenciais ao longo da gestação. Importante também é que a gestante esteja livre para discutir com os profissionais envolvidos suas vontades e seus desejos, que possa realizar e apresentar um plano de parto, perguntando sobre cada detalhe, planejando como será, pavimentando um caminho onde suas vontades possam ser respeitadas. Isso tudo, inclusive, nos casos de cesariana, seja ela marcada ou não prevista. Esses detalhes podem ser pensados e planejados, e têm o benefício de trazer mais tranquilidade, fazendo com que a mulher administre melhor seus sentimentos e inseguranças.

Nesse mundo onde Time is Money, precisamos entender que o bebê também tem seu tempo de nascer e precisamos aprender a ter paciência e respeitá-lo. Deixe seu plano de parto bem esclarecido, leia livros sobre parto e pós-parto, sobre a chegada do bebê, participe de grupos de apoio em todo período, acredite, você vai precisar e lhe ajudará a controlar os níveis de ansiedade.

É claro que existe aquela curiosidade em saber como será este bebê tão amado, como será seu rostinho…e quanto mais próximo o momento geralmente maior a ansiedade gerada pela própria mãe e grandemente pela sociedade que a circunda.

Se aparecerem pessoas com histórias do tipo “o bebê da minha vizinha passou do tempo…” o conselho é simples: não escute. Afaste-se de pessoas assim.

Se for o caso pare de atender o telefone, de entrar tanto no Whats App, Facebook, faça o seu ninho para receber seu bebê e afaste-se dos “predadores” e de pessoas que vão te gerar mais ansiedade.

Já li e ouvi várias gestantes dizerem que acabam não contando para ninguém (a não ser os que realmente importam – Médicos, cônjuge, equipe do parto), ou então jogando muito a frente sua data provável de parto (DPP), justamente por ser pouco provável (na maioria das vezes) e não obrigatório que o bebê tenha que nascer nesta data, essa é uma postura muito interessante quando se quer se livrar dos comentários citados acima.

Outra dica valiosa: busque se distrair com outras coisas. Procure fazer o que gosta. Não fique focada somente nesse final de gestação (por mais difícil que seja essa tarefa, eu sei!). Assista filmes, tome banhos demorados, faça coisas que você gosta de fazer para si mesma. Se ficar em casa te deixar ainda mais ansiosa, faça um passeio, vá a um lugar bacana, vá ao cinema… Se distraia…

A gestação – período/processo de nove meses de uma longa espera, existe para que possamos nos preparar para o parto e para a vida que vem depois. Não é algo imediato – engravidei – logo em seguida – terei o bebê, justamente para haver uma preparação. Encare a gestação como um tempo de elaboração desta vida nova em todos os sentidos, principalmente no âmbito emocional para esta mãe/pai – família que está nascendo junto com seu bebê.

Não vamos gerar ansiedades desnecessárias e que nos tragam sofrimento. O parto é um dia só (as vezes dois rsrs). É o desfecho de um maravilhoso ciclo e o início de um outro que se inicia ali: o puerpério. Esse sim, é mais longo, e a vida com esse filho (a) é para sempre. E acredite: muitas ansiedades mais terão de ser elaboradas…