Artigo elaborado pela aluna Larissa Douto

O ciclo gravídico-puerperal é uma fase de intensas transformações na vida de uma pessoa
gestante*. Uma preparação adequada ao longo da gestação, com construção de uma rede de
apoio, informação e conhecimento baseado em evidências científicas, permite que essas
mudanças ocorram de maneira mais leve e tranquila.

O puerpério, momento iniciado logo após o parto e com duração que pode chegar a dois anos,
é um desses marcos transformadores. O puerpério imediato, que dura em torno de 10 dias
após o parto, é um momento marcado pela queda na produção hormonal de estrogênio e
progesterona. É um momento que além das questões hormonais, perpassa pelas mudanças
emocionais, físicas e psicológicas, de se ter um recém-nascido em casa. O preparo e o grau de
acolhimento e suporte dado a essa nova família são fundamentais para que esse período seja
menos turbulento.

Nesse turbilhão de alterações temos a amamentação, que apesar de romantizada pode ser
extremamente desafiadora para algumas pessoas. A Organização Mundial de Saúde orienta a
amamentação exclusiva até os seis meses e após esse período, de forma complementar, até
pelo menos os dois anos de idade. No Brasil, apenas 47,7% das crianças menores de seis
meses são alimentadas exclusivamente com leite materno.

A condução do puerpério falará muito sobre como a amamentação se dará. Nesse período
temos a descida do leite (apojadura), ajuste da pega, adequação de posições, privação de sono
e tantas outras mudanças de se ter um recém-nascido em casa. Além dessas questões, as
puérperas ainda passam pelos desafios sociais: não são raras as recomendações de uso de
chupetas e mamadeiras; indicações de uso de fórmulas artificiais, para que os bebês fiquem
saciados, pois ainda permeia a crença popular o discurso de que o leite materno não alimenta;
pressão para o desmame precoce e retorno da mulher ao mundo do trabalho, e tantos outras
violências que fica difícil de entender que tipo de mundo, que desrespeita tanto a gestação, a
parentalidade e a infância, está se formando.

Pensar em amamentação é pensar em benefícios que extrapolam as puérperas e seus bebês.
Aqui estamos falando em uma sociedade que reduz seus índices de mortalidade infantil, de
câncer de mama, de desnutrição e insegurança alimentar, bem como reduz também os
adoecimentos, a sobrecarga da rede de saúde, a necessidade de aquisição de remédios e as
faltas nos trabalhos dos cuidadores das crianças. Lutar pela amamentação no Brasil é fazer
parte de uma resistência que apoia o puerpério e a infância. É fortalecer as discussões sobre
rede de apoio e responsabilidade da sociedade na formação de seus indivíduos.

Brasília, 21/07/2022.

Larissa Douto

Doula, Educadora Perinatal

@larissadouto

* Aqui as gestantes e puérperas referem-se às pessoas gestantes, incluindo mulheres cis, pessoas intersexo, pessoas
não-binarias e homens trans.