Artigo elaborado pela aluna Flávia Lopes
GOLDEN HOUR: a Hora de Ouro – termo que se refere à primeira hora de vida do bebê. Até pouco tempo, os bebês nasciam e eram levados para longe de suas mães, para as salas de primeiros cuidados e exames, que eram sucedidos pelos famosos berçários: o local onde todos os recém-nascidos ficavam sob supervisão da enfermagem hospitalar, podendo serem vistos por enormes janelas de vidro.
Com o avanço das pesquisas e observações pediátricas, constatou-se que o melhor lugar para o recém-nascido é junto à mãe e que são diversos os prejuízos físicos e emocionais de ambos quando ocorre essa separação. Os bebês apresentavam mais episódios de hipoglicemia, de sucção débil quando levados ao peito, de apatia, de respiração e batimentos cardíacos não satisfatórios. As mulheres apresentavam maiores índices de hemorragia pós-parto, tristeza e depressão pós-parto nos dias seguintes.
Em contrapartida, observou-se que os bebês que permaneciam com suas mães após o parto, independentemente desse parto ser vaginal ou cirúrgico, apresentavam menos desconfortos cardiorrespiratórios, mais disposição para mamar, mais interatividade e menos choro.
Outros estudos continuados mostraram ainda que os bebês afastados de suas mães no início da vida tinham índice menor de aleitamento materno exclusivo até os seis meses e, consequentemente, maiores índices de desmame precoce. Na Índia, um estudo publicado pela OMS mostrou que mais de 80% das mortes neonatais seriam evitadas se os bebês houvessem mamado na primeira hora de vida e assim continuassem nas primeiras 24 horas junto às suas mães.
Foram anos de estudos no mundo inteiro que trouxeram essa mudança e a consagraram na OMS e na UNICEF para as práticas de cuidados com o recém-nascido e com a mulher após o parto. No Brasil, políticas públicas como a Iniciativa Hospital Amigo da Criança e Atenção Humanizada ao Recém-nascido de Baixo Peso – método canguru – vêm promovendo a capacitação das equipes de saúde e a informação das mulheres para o entendimento da importância de que a Hora de Ouro seja priorizada em face dos exames e procedimentos rotineiros, os quais podem aguardar o melhor momento para sua realização.
A prática da Hora de Ouro vem mostrando-se também como excelente aliada da mulher e de seu filho contra a violência obstétrica e neonatal. Diversas observações clínicas, pesquisas e estudos mostram o quanto o excesso de manejos desnecessários com a mãe e o com o recém-nascido prejudica a produção de hormônios do aleitamento materno, da recuperação do parto e da saúde do bebê.
Importante destacar que não se enquadram aqui os procedimentos de atendimento às necessidades e até emergências que podem surgir no parto, principalmente o cirúrgico. Trata-se de pressa para a realização de exames, que levam ao excesso de manejo do recém-nascido, afastando-o da mãe sem necessidade. Tal prática é sim considerada uma violência, diante do fato de que esse pós-parto e pós-nascimento é um momento ímpar e muito delicado, carente de ser respeitado e tratado com o devido cuidado.
A nós, mulheres, cabe buscarmos sempre informações, conhecermos nossos direitos, buscarmos profissionais comprometidos com o nascimento humanizado e fazer valer cada um deles para beneficiar nossa saúde e garantirmos o melhor nascimento possível aos nossos filhos. Lembremos que, “para mudar o mundo, é preciso mudar a forma de nascer”, como nos ensinou dr. Michel Odent.
Flávia Santana Furtado Silva Lopes
Doula, Consultora de Amamentação
Graduanda em Naturologia
Referências:
GOLDEN HOUR: O QUE É A HORA DOURADA DO PARTO? https://bebe.abril.com.br/parto-e-pos-parto/golden-hour-o-que-e-a-hora-dourada-do-parto/
ATENÇÃO HOSPITALAR AO RECÉM-NASCIDO SAUDÁVEL NO BRASIL: ESTAMOS AVANÇANDO NA GARANTIA DAS BOAS PRÁTICAS? https://www.scielo.br/j/csc/a/sMX4jp5MbK9DBLzsTjTrbTF/?lang=pt
FATORES ASSOCIADOS AO ALEITAMENTO MATERNO NA PRIMEIRA HORA DE VIDA EM UM HOSPITAL AMIGO DA CRIANÇA https://www.scielo.br/j/tce/a/ycDnYSdRWvx8QzWyGXYPfpf/?lang=pt