Recentemente surgiram alguns artigos na internet sobre “breaxting”, que seria “o ato de enviar mensagens de texto ou usar o smartphone/tablet enquanto amamenta “. Os que são contrários relatam que a conexão entre mãe e bebê é prejudicada quando a mãe está focada no dispositivo e não no filho, além de riscos a saúde que têm sido relacionados à proximidade contínua com os aparelhos. A discussão sobre o assunto é pertinente, pois sabemos que nossa sociedade se torna cada dia mais patologicamente viciada em aparelhos eletrônicos, tanto os adultos como as crianças. Mas confesso que, como mãe de dois meninos com menos de 3 anos, achei injusta a forma como o assunto foi abordado em alguns textos. Para algumas pessoas não basta trancar em casa a mulher puérpera, entre fraldas e noites em claro – é preciso desligar a internet dela.

No mundo perfeito, no meu ideal de maternidade antes dos filhos, amamentar seria um momento sublime em que eu me sentaria na poltrona, acenderia o abajur e desfrutaria o cheiro do meu bebê, em silêncio ou ouvindo suave música clássica. Quase daria para ouvir o barulho das sinapses neuronais dele se formando ao som de Chopin enquanto nossos olhares mergulhavam um no outro.

Corta pra vida real.

Meu filho nasce. Meu puerpério é a verdadeira treva. Eu choro, e choro, e choro mais. Todos os dias por um mês eu choro. Eu tenho medo. Eu sinto culpa. Ele chora, se retorce, geme. Tem que ter algo errado, gente. Não é possível. Dá remédio pra gases, dá analgésico. Nada. Chora mais um pouco (eu e ele). Dias e noites sem descanso, minha vida de antes não existe mais. Um pesado isolamento social, a sensação de desconexão com tudo que não fosse a vida de amamentar, trocar milhares de fraldas e chorar insone.

Um dia eu achei que ia enlouquecer e resolvi fazer um tópico no grupo de mulheres no Facebook, organizado pelas doulas que me acompanharam. Eu precisava de opiniões, eu precisava saber se aquilo pelo qual estava passando já tinha acontecido com alguém, aquela sensação absurda de que tudo estava dando errado. Em poucos minutos vários depoimentos, apoio, escuta. Foi a primeira de muitas vezes em que os grupos virtuais me ajudaram ao longo desses quase 3 anos de maternidade. Uns meses depois o Whatsapp começaria a ter mais força no Brasil e a comunicação ficou ainda mais fácil e instantânea.

            Foram incontáveis as vezes em que, durante a madrugada, digitei um desabafo em nosso grupo de mães, seja sobre o cansaço, sobre a grande demanda do bebê, ou sobre alguma doença pela qual eles passavam. E que alívio olhar aquela telinha e ver um “Fulana está digitando…”. A solidão das longas noites se tornava menor. Eu sabia que em uma casa, às vezes distante da minha, existia uma amiga vivendo exatamente aquilo. Quantas madrugadas passamos velando nossos filhos resfriados juntas virtualmente!

Me parece óbvio que o uso excessivo dos eletrônicos é prejudicial, e idealmente nunca devemos trocar momentos com nossos filhos por tempo no celular. Porém acho necessário falar que o apoio virtual para uma mulher puérpera muitas vezes é a nossa única forma de interação com outros adultos e com mulheres que vivem a mesma realidade. Já não moramos nas célebres aldeias que, diz o ditado, nos ajudariam a criar nossos filhos. Nossas aldeias são nossas amigas que muitas vezes só podem nos ajudar através de uma palavra amiga pela internet. Soma-se a isso o fato que muitas mães de hoje em dia moram longe de suas famílias; existem muitos avós que esperam ansiosos por um vídeo ou foto dos netos, por notícias enviadas virtualmente.

            Ao longo destes 3 anos praticamente ininterruptos de amamentação, desde condenar totalmente o uso de eletrônicos até ver seus benefícios para as puérperas, pude amadurecer algumas opiniões. Hoje em dia eu:

  1. Evito usar o celular na frente dos filhos quando eles estão acordados: seja amamentando meu bebê de 5 meses ou com meu mais velho de 3 anos, se eles estão acordados e prestando atenção em mim eu tento usar o celular só se for algo importante. Deixo para bater papo ou ver besteiras quando o bebê fica mamando um tempão adormecido ou quando meu mais velho está ocupado com outra coisa. Acredito que além do vínculo entre a gente, está em jogo o uso de eletrônicos por eles mesmos. Nós optamos por não usar nenhuma tela até dois anos do Pedro e hoje com 3 anos ele pode assistir algumas coisas na televisão. Só que se eles me virem com o celular direto, como poderei dizer que não podem usar? Para mim essa é a questão mais desafiadora.
  1. Desligo o celular ou coloco no modo avião quando estou dormindo: seguindo aquela linha de pensamento de que a radiação do celular pode fazer mal, e como faço cama compartilhada, procuro não deixar o aparelho ligado perto da nossa cabeça enquanto dormimos.
  1. Cultivo minhas amizades virtuais: os grupos de mulheres foram e são essenciais na minha maternagem. Faço questão de manter contato com um grupo mais próximo e com algumas amigas queridas. No momento de alguma dúvida ou angústia, além de buscar ajuda profissional, não existe nada como ouvir a experiência ou dica de outra mãe. Ou, na maioria das vezes, o lembrete de que VAI PASSAR. Essa relação tem me feito uma mãe muito mais equilibrada e feliz.
  1. Tento não julgar: todo mundo sabe que é quase automático criticar mentalmente um comportamento do qual discordamos. Mas antes de apontar o dedo para a mulher que usa o celular perto do filho, ou antes de me achar a pior mãe do mundo quando faço isso, tento lembrar que a gente está em busca de ser a melhor mãe POSSÍVEL. Afinal, na busca pela maternidade perfeita geralmente não apenas falhamos em atingi-la como perdemos muito da alegria da caminhada.

E você, o que pensa sobre o uso de eletrônicos durante a amamentação?